domingo, 27 de setembro de 2009

O MUNDO DA RUA


Durante um dia, podemos observar numa mesma rua, passos, ritmos, destinos e sentidos diferentes. A rua pode ter o sentido de passagem, apenas enquanto meio, como por exemplo, de manhã pessoas que ao se dirigirem para o trabalho passam por determinada rua. Enquanto que para outros a mesma rua pode ter o sentido de fim em si mesma quando seu uso se volta para a venda de mercadorias, como é o caso dos camelôs. Já no dia da feira livre esta rua passa a ter o sentido de mercado. Caso ocorra uma manifestação política, um movimento de reivindicação sindical, a rua pode ter o sentido de reivindicação, de protesto. E para quem não tem uma casa para se abrigar, a rua vira uma moradia.

Roberto DaMatta discute sobre o mundo da rua como um espaço público marcado em nossa sociedade, por uma relação de tensão, imprevistos, e oposição ao mundo da casa espaço privado, um universo controlado onde as coisas estão em seu devido lugar, ao mesmo tempo, em que esses dois mundos interagem e se complementam.

A rua abriga pessoas que estão diariamente nos espaços urbanos, seja por opção, seja por necessidade, ou até mesmo falta de opção. Há aqueles que gostam de trabalhar nas ruas e buscar a melhor forma de tornar o seu trabalho e a interação com o ambiente cada dia mais agradável. Para outros, a necessidade e a falta de oportunidade os obriga a trabalhar nas ruas. E ainda há os indivíduos que não tiveram outra opção senão morar na rua, estes são pessoas de histórias singulares. É importante vermos o espaço das ruas não como um local e sim como um lugar onde as pessoas se identificam, interagem, reproduzindo e também alterando um pouco aquele meio.
Nesse sentido, os percursos realizados pelas pessoas e a sua relação com o espaço, faz da rua, e a até mesmo da cidade, um lugar. É importante dizer que as mediações espaciais são pautadas segundo as características do tempo vivido. Um mesmo percurso é para algumas pessoas algo necessário, para outras uma escolha, e etc. Ou seja, o ato de caminhar por certa rua pode ser uma prática carregada de representações subjetivas. São essas relações que criam o significado do lugar e que só pode ser compreendido através de um conjunto de sentidos adquiridos individualmente.

Para tanto, o centro da cidade é um lugar onde milhares de pessoas transitam durante o dia a dia, é rotina de muitos, passar sempre pelo mesmo local, mas ao cair da noite essas mesmas ruas ficam quase que desertas, é aí que surge às personagens que se perdem em meio à multidão durante o dia, à noite a casa dos moradores de rua ganha forma. Eles parecem ter uma relação bem mais profunda com a rua, as experiências, recordações e lições que tiram daí, são na maioria das vezes negativas e desagradáveis, pois dificilmente uma pessoa escolhe morar na rua, ali está a sua última opção.

Nas ruas, elas aprendem a se virar como podem, seja pedindo trocados para se alimentar, seja juntando-se em grupos na hora de dormir para descansar com um pouco de segurança, ou até mesmo aprendendo a se isolar e anular-se diante das pessoas. Essas pessoas são rejeitadas, confundidas com marginais e olhadas com medo, por quem passa. Elas compõem o cenário da rua, mas são “invisíveis” para a sociedade.

Érica Lima