segunda-feira, 14 de março de 2011

De repente poesia...

O programa Conexão Roberto D’Avila da TV Brasil, de ontem (domingo, 13), foi muito bom. Um especial sobre literatura com os melhores momentos das entrevistas feitas com os escritores Mario Vargas Llosa, Carlos Heitor Cony e Cleonice Berardinelli.
Chamou-me a atenção o momento com Cleonice Berardinelli, a maior especialista em literatura portuguesa no Brasil (imortal da Academia Brasileira de Letras). Ela falava sobre Fernando Pessoa – “o poeta fingidor”. Comentava que muitos tinham uma errônea compreensão em achar que Pessoa se admitiu como fingidor no sentido de mentira de inversão. Buscando a origem da palavra - o verbo fingir (do latim "fingere " - fingir, pintar, desenhar) Cleonice nos leva a perceber que Fernando Pessoa além de sentir sua real dor, também sentia uma nova dor, a dor pintada, desenhada por ele.  

Uma agradável aula de literatura. E hoje é o dia da poesia, então...

AUTOPSICOGRAFIA
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
Fernando Pessoa

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