sábado, 15 de agosto de 2009

LANÇANDO UM OLHAR PARA A IDENTIDADE CULTURAL

Projeto leva capacitação cultural ao município de Sítio Novo


A arte da literatura de cordel é o tema explorado na oficina do projeto Um Olhar Sobre a Serra, que faz parte de um ciclo de oficinas culturais no município de Sítio Novo, a 118 quilômetros da capital do Rio Grande do Norte. O município foi escolhido por ser uma fonte rica de bens históricos e culturais e por ser pouco conhecido no Estado, principalmente o distrito Serra da Tapuia, que tem um difícil acesso físico.
O projeto patrocinado pelo Banco do Nordeste do Barsil, é uma realização do grupo Caminhos Comunicação & Cultura que percebeu, na realização de oficinas, uma forma de proporcionar a democratização do acesso à cultura para a população de Sítio Novo. O objetivo principal é fortalecer a identidade local e proporcionar uma integração entre a comunidade contemplada e o resto do Estado.
LITERATURA DE CORDEL

A oficina de literatura de cordel ministrada pelo professor de matemática e cordelista José Acaci, realizada na comunidade da Serra da Tapuia, durou três dias, com carga horária de 16 horas de duração. Para a surpresa da organização, que esperava atender um público mais jovem e adulto, a oficina teve cerca de 30 inscritos, sendo a maioria de crianças entre 11 e 13 anos. Mariana de Souza tem 11 anos e disse gostar muito da oficina, “tem muitas coisas legais, os poemas. Estamos aprendendo cordel, aprendendo as rimas e rimando. No ano passado eu tinha visto um pouco sobre isso na escola e hoje estou podendo desenvolver. Quando soube da oficina tive muita vontade de participar. O cordelista Acaci disse não ter encontrado nenhuma dificuldade em ministrar a oficina para a garotada, pois já usa o cordel na sala de aula, com crianças do 5° ano numa escola em Parnamirim.

A oficina discutiu as diferentes regras e estilos da literatura de cordel como quadra, sextilha, setilha, quadrão e décima. Incentivou a leitura e a produção da literatura de textos em cordel como instrumento de registro das histórias do lugar, documentando lugares e pessoas que fazem parte do conjunto cultural de sua cidade. A poesia de cordel, reconhecida como patrimônio histórico e cultural do povo potiguar, nordestino e brasileiro, foi utilizada na oficina como recurso para-didático ou leitura suplementar, o que incentivou a comunidade ao conhecimento do cordel como arte, fonte de diversão e divulgação da cultura popular.
Acaci surpreendeu-se com a turma que participou da oficina. “É uma honra, em um lugar tão distante, encontrar talentos, filhos de poetas matutos que não sabem nem ler, mas tem um baú onde guardam uma grande quantidade de poesias, sextilhas, de cordéis e passando para essa juventude, que começa a valorizar mais esse trabalho”.

A jovem Renata Cristina ficou muito feliz ao saber da oficina, pois admira bastante o cordel. Seu pai não sabe ler nem escrever mas é cordelista assim como o avô, que nunca publicou nenhum cordel, mas sustentou a família com essa forma de literatura. Renata também traz na veia a poesia do cordel e ao participar da oficina pôde aprofundar-se na técnica da produção. “Essa oficina vai mudar minha vida, pois aprendi o que é certo, o que é errado, e eu vou fazer cordéis mais bem feitos. Aqui nunca aconteceu uma oficina dessa, e está sendo importante tanto para mim, quanto para outras pessoas.” Marcia Layane, outra participante da oficina, também elogia a iniciativa: “essa foi a primeira vez que eu teve acesso a literatura de cordel”.

Alexandre Santos, que faz parte da equipe Caminhos Comunicação e Cultura, afirma que o acesso aos meios de produção cultural deveria chegar a todos os recantos do país, mas não chega. “Até em Natal temos uma demanda reprimida de pessoas que gostariam de se expressar através das artes, nas cidades mais afastadas essa necessidade é mais gritante e queremos contribuir para que mesmo no agreste potiguar, as pessoas possam ter a oportunidade de produzir culturalmente e valorizar os aspectos de sua cultura”.

A iniciativa pretende fortalecer o sentido de pertencimento e valorizar a cultura popular, promovendo a troca de experiências entre as gerações, reconhecendo a importância de todos para construção de uma comunidade mais forte.

Repórter: Érica Lima

Fotografias: Jeferson Rocha

Um comentário:

  1. É de iniciativas como esta que o Brasil precisa. "mais cultura para mais brasileiros" acho que foi inspirada nesse projeto rsrsrs.
    Parabéns ao grupo Caminhos. O blog está ficando maravilhoso... parabéns pra vc também, Érica!
    Abraço

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